A confiança em Deus e a prática da oração têm efeito benéfico e comprovado sobre a saúde – Luiz Fernando Sella
George acordou certa manhã com fortes dores de estômago. “Essa dor deve passar logo; não deve ser nada grave”, pensou ele. Mais tarde, sua esposa Cheryl percebeu que algo estava errado com ele. O rosto dele demonstrava algum sofrimento. “O que você tem, George?”, perguntou. “Estou com muita dor na barriga; não estou mais aguentando”, respondeu ele. Cheryl levou o marido às pressas a um hospital próximo. Após detalhada investigação, os médicos descobriram uma forma rara de câncer na vesícula biliar. Eles então realizaram uma cirurgia de emergência para remover a vesícula biliar cancerosa; mas havia outra má notícia: “Quando fizeram a cirurgia, viram que o câncer havia se espalhado para o fígado”, disse George. “E isso, como você deve imaginar, basicamente significa que você não viverá muito tempo.”
O médico da família e amigo do casal, Dr. Mc- Queen, também temia o pior: “O prognóstico era ruim”, disse o Dr. McQueen. “Com o estágio do câncer avançado, uma vez que já havia metástase em outro órgão, as opções de tratamento eram limitadas. E as que estavam disponíveis para George eram arriscadas e poderiam tirar a vida dele.” Enfrentando a realidade de morte quase certa, George consultou outro médico e buscou uma segunda opinião. “Mesmo diagnóstico, mesmo prognóstico”, disse George. “A única diferença é que esse médico foi um pouco mais positivo e me disse: ‘Vamos operar.’ Mas ele também disse: ‘Se eu abri-lo e encontrar qualquer câncer em qualquer outro lugar do fígado, vou fechá-lo de volta, porque nesse caso não haverá nada que possamos fazer.’”
Por recomendação do cirurgião, George não passou por quimioterapia nem tomou qualquer medi-cação antes da cirurgia. Em última análise, ele sabia que sua vida estava nas mãos de Deus. “Eu sei que Deus cura”, disse George. “Mas também sou realista e sei que a Bíblia diz: ‘Aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disso, o juízo’ (Hebreus 9:27). Então, eu estava pronto para aceitar isso – se fosse o momento de morrer, eu estava pronto para isso.”
À medida que a data da cirurgia se aproximava, Cheryl orava pela ajuda de Deus. “Nossa igreja organizou uma reunião de oração. Também pedimos oração para outras pessoas e grupos”, disse Cheryl.
Enquanto os cirurgiões realizavam o procedimento, Cheryl recebeu um telefonema. Após atender, ela desligou o telefone e começou a chorar, pois o médico havia dito que o fígado de George estava perfeitamente normal. Não tinha nenhum sinal de câncer! “O fígado parecia normal e saudável”, disse George. “Deus tirou [o câncer], e eu não sei como Ele fez isso. Eu não sei se Ele simplesmente fez o câncer ir embora, ou se Ele me deu um fígado novo. Para mim não importa. Tudo que sei é que Ele é um Deus de milagres e me curou”, completou George, emocionado.
“Eles acreditam na oração e confiam na soberania de Deus”, disse o Dr. McQueen. “Não há tratamento médico ou explicação para esse tipo de resultado – absolutamente milagroso!”
Passados dois anos, os testes de rotina continuavam a mostrar o mesmo resultado – nenhum sinal de câncer!
Confiança em Deus
A história de George representa inúmeras histórias de curas e verdadeiros milagres experimentados por diversas pessoas em todo o mundo. Até mesmo médicos céticos que não creem em Deus já testemunharam casos semelhantes que não têm explicação científica.
Há mais de cem anos, Sir William Osler, considerado o pai da medicina científica ocidental e professor de medicina na Universidade de Oxford, no Reino Unido, publicou um artigo que se tornou um clássico, intitulado “A fé que cura”. No texto Osler diz que “nada na vida é mais maravilhoso do que a fé”, e que “a fé sempre desempenhou papel importante como medida popular de cura”.
Nas últimas décadas, a investigação científica sobre o impacto da confiança em Deus na saúde se expandiu grandemente na saúde pública, na medicina e nas ciências sociais e comportamentais. Uma revisão abrangente de 1.200 estudos sobre religião e saúde publicados na literatura médica confirmou que entre 75% a 90% de todos os estudos encontraram efeito positivo da fé e da religiosidade na saúde.
Entretanto, em uma sociedade cada vez mais secularizada, muitos consideram a fé uma afronta à razão e à racionalidade. Escolhem o ateísmo e preferem viver na descrença, fechados à possibilidade da existência de um poder superior. Consideram Deus e a religião o ópio do povo, e atribuem à sorte ou ao acaso a ocorrência de curas milagrosas como aquela experimentada por George.
Por outro lado, muitos ainda acreditam que confiar em Deus é uma coisa boa. Enxergam a fé como nobre virtude ao lado do amor, da esperança e da caridade. Buscam desenvolver a fé, a crença, a confiança e a obediência direcionadas a um Deus pessoal e amoroso, sentindo seus efeitos em todas as dimensões: no corpo, na mente, nos relacionamentos, nos hábitos.
Há muitos benefícios em confiar em Deus. Pesquisas mostram que a fé, as crenças e esperanças podem desempenhar papel importante na saúde. Dale Matthews, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Georgetown, em Washington, nos Estados Unidos, demonstrou que a confiança em Deus e o envolvimento religioso ajudam as pessoas a evitar doenças, a se recuperar mais rapidamente e, inclusive, a viver mais.
Quanto mais comprometidos espiritualmente estivermos, maior será o benefício. O médico Larry Dossey e outros pesquisadores publicaram matérias extensivas sobre os benefícios da oração e da cura. Segundo eles, um relacionamento de confiança com Deus fortalece todos os aspectos da vida. A fé cria uma resiliência que pode ser medida nos seres humanos; uma capacidade adicional de enfrentar dificuldades e provações e triunfar sobre elas.
Efeito placebo?
Para os céticos, os efeitos da confiança em Deus observados na promoção da saúde são frequentemente atribuídos ao misterioso efeito placebo – observação bem conhecida de que “a expectativa de um resultado saudável é muitas vezes terapêutica”. O efeito placebo pode ser dramático e poderoso, muitas vezes até suplantando os efeitos específicos de determinados agentes terapêuticos, como um medicamento. Por exemplo: observou-se que 70% dos pacientes conseguem resultados bons ou excelentes com procedimentos posteriormente demonstrados ineficazes em ensaios clínicos. Em outras palavras, pode-se esperar que cerca de 2/3 ou mais dos pacientes experimentem alguma melhora substancial quando o paciente e o terapeuta acreditam no tratamento fornecido, independentemente de qual seja.
Confiar em Deus não é benefício para poucos, mas um convite estendido a todos. Como disse o apóstolo João, “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).
O hábito de falar com Deus, a leitura de Suas promessas encontradas na Bíblia, a experiência das orações respondidas, a constatação das atividades da Sua providência em nosso caminho – tudo isso fortalece nossa capacidade de confiar. E quem confia, entrega. Jesus nos convida a entregar a vida diariamente nas mãos Dele, renovar a cada dia nosso relacionamento, buscar a presença Dele em nós por meio do Espírito Santo, para então vivermos uma vida feliz. “Permaneçam em Mim, e Eu permanecerei em vocês. […] Tenho lhes dito estas coisas para que a Minha alegria esteja em vocês, e a alegria de vocês seja completa” (João 15:4, 11).
A confiança em um Deus Criador amoroso que apenas quer o melhor para nós é fundamental para viver uma vida feliz. Quando percebemos que Deus nos ama, apesar de nossas falhas, e que Sua vontade pode levar a nossa alegria e realização, então podemos começar a confiar Nele. Nos momentos difíceis da vida, há paz em saber que Deus está ao nosso lado. E essa paz, constante em todas as situações, é vital para uma vida plena e saudável; ela nos acompanha em tempos difíceis e dá esperança para o futuro.
A fé é como um músculo, que se desenvolve à medida que é praticada ou se atrofia por desuso. Se você deseja aprofundar seu relacionamento de confiança em Deus, é importante adotar alguns hábitos diários:
De fato, em um estudo, os médicos eliminaram com sucesso as verrugas de pacientes pintando-as com um corante de cores vivas, mas inerte, sem nenhum princípio ativo terapêutico, prometendo aos pacientes que elas sumiriam quando a cor desaparecesse. Em outro estudo com asmáticos, os pesquisadores descobriram que poderiam produzir dilatação das vias aéreas simplesmente dizendo às pessoas que estavam inalando um poderoso broncodilatador, mesmo quando não estavam.
Existem milhares de outros exemplos bem documentados de como as crenças de uma pessoa trazem melhorias físicas reais. A crença na eficácia de um agente de cura pode produzir um efeito terapêutico geral que excede ou pelo menos complementa quaisquer efeitos específicos da terapia médica. Em outras palavras, a fé ou a oração, ou pelo menos acreditar e afirmar a eficácia da fé ou da oração, pode, de fato, curar, independentemente de uma ação explícita de origem divina. Isso poderia ocorrer pela ativação de mecanismos de cura no corpo humano em decorrência da crença, e não significa dizer que a cura pela fé é falsa, mas sim dar-lhe uma explicação muito real e fisiológica.
O fator fé
Por outro lado, mesmo que não seja possível demonstrar cientificamente uma força sobrenatural em ação durante o processo de cura, alguns autores acreditam que a fé invoca um “poder divino” que se origina em Deus, fora da natureza, e é recebido diretamente de Deus, sem atravessar espaço ou tempo ou qualquer parte do Universo criado, por aqueles que pedem em nome de Deus.
Em outras palavras, a cura sobrenatural pode ser conceituada como uma forma de resposta divina à oração de petição. Em tais casos, um ato de petição seria feito de dentro da natureza para um Ser transcendente. Deus então operaria o milagre por meio de uma intervenção sobrenatural.
Esse fenômeno pode ajudar a explicar por que Jesus frequentemente dizia àqueles que curou: “Filha, a sua fé salvou você! Vá em paz e fique livre desse mal” (Marcos 5:34). De fato, se a fé de uma pessoa em médicos e drogas pode ter uma influência tão profunda em nossa saúde (efeito placebo), quão mais poderosa seria a fé em Deus em nosso bem-estar físico e espiritual? Jesus disse: “Tudo é possível ao que crê” (Marcos 9:23).
O poder da oração
Acreditar que Deus existe e Nele confiar estimula a formação de um vínculo, um relacionamento íntimo entre criatura e Criador. Como qualquer relacionamento interpessoal humano, a intimidade se desenvolve por contato, conversa, troca, pelo compartilhar. No relacionamento com Deus, a intimidade se desenvolve pela oração. Mesmo Jesus, nascido do Espírito Santo (Mateus 1:18) e batizado pelo Espírito Santo (Mateus 3:16), passava horas por dia em comunhão com o Pai por meio da oração.
A oração está entre as mais antigas e difundidas intervenções utilizadas com o intuito de aliviar doenças e promover saúde. Praticamente todas as culturas humanas oraram de uma forma ou de outra durante períodos de estresse e nos estágios finais da vida. A oração pode ser defini-da como uma comunicação espiritual com Deus ou um objeto de adoração. Ela é tão presente na vida das pessoas que, se fosse considerada uma forma de medicina complementar ou alternativa, ela seria a forma mais comumente usada em diferentes populações.
Estudos demonstraram que a oração ativa partes mais profundas do cérebro: o córtex pré-frontal medial e o córtex cingulado posterior. Isso pode ser visto por meio de ressonância magnética (RM), que renderiza imagens anatômicas detalhadas. Essas partes do cérebro estão envolvidas na autorreflexão e têm efeito autocalmante. Quando essas regiões reflexivas do cérebro são ativadas, partes dele associadas à ação são inativadas. Assim, a oração permite mudar de um modo de sobrevivência assustado e estressado para um “estado intencional” de reflexão, engajando novamente o córtex pré-frontal – a parte do cérebro que governa o funcionamento executivo e nos permite tomar decisões inteligentes e ponderadas.
A oração facilita o relaxamento, levando à diminuição da frequência cardíaca, a menor tensão muscular e respiração mais lenta. Além disso, a oração pode melhorar o humor e o bem-estar subjetivo, levando a um estado de paz e calma durante a oração, que se estende às outras áreas da vida do praticante.
Como demonstração prática da confiança no poder restaurador de Deus, a oração pela saúde é comumente usada por pacientes que enfrentam diferentes diagnósticos médicos. Em um estudo com cem participantes, 96% dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca indicaram que usavam a oração como mecanismo de enfrentamento.
Estudos demonstraram que a oração ativa partes mais profundas do cérebro: o córtex pré-frontal medial e o córtex cingulado posterior. Isso pode ser visto por meio de ressonância magnética (RM), que renderiza imagens anatômicas detalhadas.
Estudos demonstraram que a oração ativa partes mais profundas do cérebro: o córtex pré-frontal medial e o córtex cingulado posterior. Isso pode ser visto por meio de ressonância magnética (RM), que renderiza imagens anatômicas detalhadas.
Em especial, as orações devocionais que assumem a forma de um diálogo íntimo com um Deus de apoio estão associadas a um melhor senso de otimismo e bem-estar. O benefício maior ocorre quando se experimenta uma interação com Deus, uma percepção de estar sendo conduzido e amparado, ter orações respondidas e experimentar uma sensação de paz.
Apesar de a Bíblia encorajar a oração para fins de saúde (“A oração feita com fé curará o doente” [Tiago 5:15, NVI]), e inúmeras pesquisas confirmarem seus benefícios, o objetivo principal da oração cristã não é melhorar a saúde, mas, sim, comungar com Deus. Os objetivos relacionados à saúde são secundários em comparação com a oportunidade de comungar com um Deus de amor que apenas quer o nosso bem (Jeremias 29:11).
Mas os benefícios não param por aí, e também se estendem ao aspecto físico. As doutrinas religiosas influenciam as decisões sobre saúde e comportamentos de saúde. Na Bíblia Sagrada, por exemplo, há uma ênfase em cuidar do corpo como algo santo, um verdadeiro “templo do Espírito Santo” (1 Coríntios 6:19, 20). Veja no quadro abaixo a quais motivos a religiosidade está associada.
O impacto da confiança em Deus nos hábitos e na saúde física e mental leva inclusive a uma redução na mortalidade. Em um estudo com 85 mil participantes, principalmente adultos de baixa renda, os resultados mostraram que aqueles que compareceram ao culto religioso mais de uma vez por semana tiveram redução de 8% na chance de morte por todas as causas, e redução de 15% na chance de morte por câncer, quando comparados com aqueles que nunca compareceram.
Luiz Fernando Sella Médico epecialista em Endocrinologia, mestre em Medicina do Estilo de Vida pela Universidade de Loma Linda, fellowship no Instituto de Medicina do Estilo de Vida da Universidade de Harvard
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