quinta-feira, 21 novembro

O ar é um dos remédios naturais mais importantes para a vida e a saúde humana. Por isso precisamos aprender a cuidar bem dele e usá-lo com sabedoriaEverton Fernando Alves

Intuitivamente, cada um de nós sabe que o ar puro é importante para nossa saúde. Mas você sabe o porquê disso? Bem, as células vermelhas do sangue, também conhecidas como hemácias, capturam o oxigênio do ar a partir dos minúsculos vasos presentes nos pulmões e o transportam para os diferentes tecidos do corpo. Cada célula necessita de oxigênio para fazer funcionar suas “usinas” de energia, as mitocôndrias. As hemácias também transportam o dióxido de carbono – produto final das atividades celulares – de volta para os pulmões a fim de ser excretado. Quando expiramos, portanto, o gás carbônico é expulso com o ar pobre em oxigênio. Todo esse ciclo de trocas

gasosas é fundamental para manter em equilíbrio as atividades bioquímicas do organismo. Mas, então, o que acontece quando o ar externo ao corpo está poluído? Aqui

vai o spoiler: o corpo adoece. Para entender melhor essa relação entre poluição do ar e enfermidades, temos que consultar o que as pesquisas científicas honestas dizem a esse respeito. Muito tem sido falado sobre os impactos da poluição do ar atmosférico na saúde do planeta e, consequentemente, na saúde humana. Países que adotaram leis rígidas contra o aumento da poluição experimentaram, em contrapartida, benefícios nítidos para a saúde pública e a proteção ambiental.

Tomemos como exemplo a “Lei do Ar Limpo”, estabelecida nos Estados Unidos na década de 1970. Por mais de 50 anos, essa lei tem reduzido a poluição à medida que cresce a economia dos Estados Unidos. Uma experiência de sucesso que mostrou que proteger a saúde pública e melhorar a economia podem andar de mãos dadas.

A seguir veremos, especificamente, o que as pesquisas científicas vêm apresentando em relaçãoaos benefícios do “remédio” ar puro para o corpo humano.

Alguns resultados da Lei do ar Limpo nos Estados Unidos

Especialmente em relação à saúde da população, por causa dessa lei, os americanos hoje enfrentam riscos menores de morte prematura e outros efeitos graves para a saúde devido à poluição. Segundo o relatório prospectivo revisado por pares, emitido pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA,1 que analisou os resultados e projetou estimativas de saúde da “Lei do Ar Limpo” para o período entre 1990 e 2020, houve as seguintes estimativas:

 

 

Educação e aprendizagem

A poluição do ar há muito é compreendida como uma ameaça à saúde humana, mas pouco se tem dito a respeito da qualidade do ar interno dos espaços de aprendizagem. Visto que o estudante médio passa mais de 14 mil horas em uma sala de aula ao longo de sua vida – o equivalente a mais de um quarto da vida –, o ar dentro das escolas é importante. Também é importante observar que as escolas tendem a ser densamente povoadas, normalmente com quatro vezes mais ocupantes do que prédios de escritórios com planta baixa e metragem quadrada semelhantes.

A qualidade do ar interno é o resultado de interações complexas entre a meteorologia local, as estruturas circundantes e as características do edifício (por exemplo, ventilação do local, localização das entradas de ar, etc.). Diante disso, a poluição do ar interno é altamente variável espacial e temporalmente.

Quando o assunto é a saúde infantil, embora se saiba há algum tempo sobre os efeitos negativos da poluição do ar externo sobre essa faixa etária,2 evidências recentes indicam que a poluição interna também tem efeitos prejudiciais na aprendizagem dos alunos.

Pesquisas documentaram quedas significativas nas pontuações dos testes quando os alunos fazem avaliações em dias com altos níveis de poluição por partículas. Ademais, um estudo recente comparou alunos que frequentavam escolas em favor do vento em relação a contra o vento nas rodovias e descobriu que o aumento da poluição do ar por estar em favor do vento reduziu as pontuações dos testes e aumentou os incidentes e as faltas comportamentais.

Outra pesquisa ainda usou a variação de ano para ano na produção de energia combinada com a direção do vento para mostrar que a poluição das usinas movidas a carvão também impactam a cognição e reduzem as pontuações dos alunos nos testes. Se isso não bastasse, estudos desenvolvidos em Londres descobriram que a qualidade do ar dentro das salas de aula era pior do que a qualidade do ar fora.

Doenças mentais

Não pense que para por aí! A privação de ar puro também pode impactar a saúde mental dos seres humanos. Em 2020, por exemplo, um estudo publicado na revista Neurology, usando dados humanos e animais, mostrou que processos de envelhecimento do cérebro agravados pela poluição do ar podem aumentar o risco de demência. A pesquisa indicou que mulheres mais idosas que viviam em locais com altos níveis de partículas finas, conhecidas como PM2.5, sofreram perda de memória e encolhimento do cérebro semelhante ao de Alzheimer, não observado em mulheres que viviam com ar mais limpo.

Em 2021, um estudo publicado no Journal of Alzheimer’s Disease mostrou forte associação entre déficits cognitivos e poluição do ar entre pessoas com níveis mais baixos de educação. Os resultados evidenciaram que, quando expostos a PM2.5, adultos com 65 anos ou mais e com menos de oito anos de educação enfrentavam risco maior de deficiência cognitiva.

Ainda no mesmo ano, outra publicação, desta vez na revista Alzheimer’s & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association, sugeriu que análises realizadas em humanos e camundongos acerca de possíveis problemas mentais associados à poluição do ar forneceram evidências de que um ar mais limpo pode reduzir o risco de Alzheimer e declínio cognitivo mais rápido e outras demências.

Segundo esse estudo, carros e fábricas produzem PM2.5, que está relacionado à perda de memória e ao mal de Alzheimer. Menores do que a largura de um fio de cabelo humano, essas partículas minúsculas representam um grande problema. Uma vez inaladas, elas passam diretamente do nariz para o cérebro, além da barreira hematoencefálica que normalmente protege o cérebro da poeira e de outros invasores.

“Melhorar a qualidade do ar em todo o país tem sido uma grande história de sucesso em políticas ambientais e de saúde pública. Mas há sinais de reversão dessas tendências”, afirma Jennifer Ailshire, líder do estudo e pesquisadora da Escola de Gerontologia Leonard Davis, da Universidade do Sul da Califórnia. “Os níveis de poluição estão subindo novamente e há cada vez mais incêndios de grande porte, que geram quantidade significativa de poluição do ar em certas partes do país. Isso me preocupa com as tendências futuras na melhoria da qualidade do ar”, diz a pesquisadora.

Em 2010, o projeto Carga Global de Morbidade (em inglês, Global Burden of Disease – GBD),12 que representa o maior e mais abrangente esforço até hoje para medir os níveis e tendências epidemiológicas em todo o mundo, por meio de análise da mortalidade e incapacitação causada por 107 doenças e 10 fatores de risco, e contando com a colaboração de mais de 1.800 pesquisadores de 127 países, forneceu informações sobre as doenças com maior incidência em escala global. Os resultados estimaram que, anualmente, 3,2 milhões de mortes e 3,1% dos anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs) são atribuíveis à poluição do ar exterior e 3,5 milhões de mortes e 4,5% de DALYs à poluição do ar doméstico. Isso coloca a exposição à poluição do ar como o principal fator de risco ambiental e entre os fatores de risco modificáveis mais importantes para a carga global de doenças.

Doenças cardiopulmonares

Outra grande preocupação para os especialistas diz respeito à associação negativa entre ar poluído e surgimento de doenças cardiovasculares. Também encontrou dados preocupantes um estudo de coorte financiado pelos Institutos Nacionais da Saúde (NIH) dos Estados Unidos, intitulado PURE-AIR, iniciativa do governo norte-americano que mais recentemente vem examinando as associações entre poluição do ar doméstico e externo e doenças cardiovasculares e respiratórias dentro de um Estudo Prospectivo de Epidemiologia Urbana e Rural (PURE). Os resultados preliminares mostraram que a poluição do ar domiciliar (HAP) pela queima de combustíveis sólidos é um importante contribuinte para a carga de doenças em países de baixa e média renda. Além disso, pesquisa mostrou que o uso de combustível sólido em domicílios e ambientes externos foi associa-do a maiores taxas de risco para mortalidade devido a causas de doenças cardiovasculares e respiratórias.

O ar puro como uma ordenança e um direito humano básico

Depois de termos analisado juntos todas essas evidências científicas, podemos concluir que o ar puro é um recurso fundamental para a manutenção da saúde. O “remédio” ar puro tem relação direta com a saúde física e mental. A Bíblia afirma que Deus criou o ar. Em Gênesis 1:8 é dito que “ao firmamento, Deus chamou céu. Passaram-se a tarde e a manhã; esse foi o segundo dia.” A Bíblia também deixa claro quanto Deus Se preocupa com nossa saúde. Em 1 Coríntios 3:16, 17, está escrito: “Vocês não sabem que são santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vocês? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá. Porque o santuário de Deus, que são vocês, é sagrado.”

A Bíblia também é enfática quando o assunto é a relação entre vida e respiração. Em Atos 17:25 lemos: “Deus […] a todos dá vida, respiração e tudo mais”; e, em Isaías 42:5, é dito: “Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus e os estendeu, formou a terra e a tudo quanto produz; que dá fôlego de vida ao povo que nela está e o espírito aos que andam nela.” Portanto, toda vez que você respirar, lembre-se de que existe Alguém que incansavelmente cuida de você.

Naturalmente, as evidências que foram apresentadas até aqui devem servir também para incentivar os formuladores de políticas, especialmente a proposição de regulamentações ambientais, a fim de reduzir a exposição das crianças aos poluentes transportados pelo ar, ao promover, por exemplo, o declínio no uso do carvão devido a alternativas já existentes mais baratas e limpas.

Uma iniciativa que nós, cidadãos, podemos ter é, em primeiro lugar, adotar medidas simples e individuais para diminuir a poluição do ar atmosférico onde quer que estejamos, bem como exigir de nossos governos o controle da qualidade do ar que respiramos, e, mais do que nunca, devemos fazer isso em escala global. Não só para nós, mas a educação e a saúde dos nossos filhos dependem disso.

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