domingo, 22 dezembro

A importância da alimentação saudável como remédio natural Adriana Boganha

Os adventistas do sétimo dia acreditam que a chave para o bem-estar se encontre em uma vida de equilíbrio e temperança. A natureza nos fornece uma riqueza de coisas boas que podem nos proporcionar saúde vibrante. Água pura, ar fresco e luz do sol promovem vida saudável, quando usados apropriadamente. Pensamentos claros e escolhas sábias são favoreci- dos pela prática de exercícios físicos e pela abstinência de substâncias nocivas, como tabaco, álcool e outras que afetam a mente. Uma dieta vegetariana bem equilibrada, que dispensa o consumo de carne e é rica em legumes, cereais integrais, nozes, frutas, verduras e vitamina B12, resulta em uma saúde vigorosa.

 

Dietas vegetarianas

Por mais de 150 anos, os adventistas defendem uma dieta vegetariana para a boa saúde. A dieta original dada pelo Criador era vegetariana. Evidências científicas acumuladas ao longo do último meio século mostraram conclusivamente que uma dieta vegetariana bem balanceada não somente é nutricionalmente adequada, mas também transmite benefícios para a saúde. Muitas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como as doenças cardíacas, derrame cerebral, câncer, diabetes tipo 2 e obesidade, podem ser prevenidas ou tratadas ao se seguir uma dieta vegetariana. Esse tipo de dieta bem planejada tem se mostrado apropriada para as pessoas durante todas as fases do ciclo de vida, incluindo gravidez, lactação, infância e adolescência; e também apoia o desempenho atlético superior.

Prevenção e tratamento das dcnts

As doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) despontam como grande problema de saúde pública no Brasil, pois respondem por elevado índice de mortalidade, bem como impactam fortemente no Sistema Único de Saúde consumindo vultosos recursos econômicos. Dentre os fatores etiológicos associados a elas, destaca-se a alimentação inadequada e, nesse aspecto, dietas vegetarianas parecem ser uma alternativa.

Diabetes tipo 2

A revisão de vários estudos demonstra que a prevalência e a incidência de diabetes tipo 2 são significativamente menores em pacientes vegetarianos do que em onívoros, e mesmo em relação aos semivegetarianos. O atual guideline de práticas clínicas da Canadian Diabetes Association recomenda a alimentação vegetariana como parte do tratamento do diabetes tipo 2 devido ao seu potencial de reduzir o peso corporal, valores LDL-colesterol, colesterol total e colesterol não-HDL, e redução da necessidade de medicamentos. Alguns efeitos positivos da ali-mentação vegetariana podem ser alcançados em pacientes que não aderem completamente a essa alimentação, mas reduzem o consumo de produtos de origem animal, especialmente carne processada, como linguiça, salsicha, bacon, pepperoni, mortadela, peito de peru, presunto, nuggets, salame, toucinho, carnes enlatadas (como atum e sardinha) e afins. Quando se comparou a eficácia da dieta ovolactovegetariana e de uma dieta onívora, em conjunto com o exercício físico, no controle glicêmico, verificou-se que a dieta vegetariana foi responsável pela diminuição da dose de medicação em percentagem maior de participantes. Observou-se que, antes da introdução da atividade física, a acumulação de gordura subcutânea e visceral diminuiu em ambos os grupos. No entanto, após a introdução do exercício físico, a hemoglobina glicada e a acumulação de gordura subcutânea diminuíram nos vegetarianos, enquanto a acumulação de gordura visceral aumentou nos onívoros. Ou seja, a combinação do exercício com a dieta ovolactovegetariana pode ser uma das estratégias usadas para o controle glicêmico em diabéticos. Em onívoros do Adventist Health Study-2, a pre- valência de diabetes tipo 2 era duas vezes maior do que em ovolactovegetarianos e vegetarianos estritos, e os estritos tinham 62% menos risco de desenvolvê-la, versus 38% de risco dos ovolactovegetarianos, comparando-se aos onívoros. Outros estudos avaliaram o poder de tratamento da dieta vegetariana no diabetes e encontraram efeitos positivos, em que o controle glicêmico de diabéticos tipo 2 melhorou após a adoção da dieta vegetariana, com uma redução média de 0,4 ponto na hemoglobina glicada. Esses resultados podem ser explicados, pois a dieta vegetariana tem como base as plantas: grãos integrais, leguminosas, frutas, vegetais, castanhas e fibras, maximizando o efeito protetor dos alimentos e excluindo o efeito prejudicial dos produtos de origem animal, que tendem a promover risco inflamatório, especialmente carnes vermelhas e carnes processadas.

Hipertensão

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), nas próximas duas décadas, serão as doenças crônicas que, dentre as afecções não comunicáveis, ocuparão a liderança das causas de incapacidades. As doenças cardiovasculares são responsáveis por 30% das mortes no mundo. Dentro desse contexto, destaca-se a hipertensão arterial como um dos principais fatores de risco cardiovascular. A hipertensão é altamente prevalente em nosso meio, estimando-se que acometa cerca de 30% dos adultos, duplicando esse valor nos idosos. Porém, o controle da doença ainda é muito baixo, apesar da comprovação de medidas efetivas no tratamento medicamentoso e não medicamentoso. Além de fatores socioeconômicos desfavoráveis que contribuíram para a presença de hipertensão, merece destaque a influência do hábito alimentar. Considera-se o padrão alimentar dos adventistas um diferencial em relação aos demais grupos religiosos por sua abstinência e/ou consumo reduzido de alimentos de origem animal, além de serem abstêmios de bebida alcoólica e fumo de toda espécie. Estudos mostraram que tanto homens quanto mulheres que consomem carne apresentaram maiores valores pressóricos, índice de massa corporal, colesterol e triglicérides, quando com- parados aos vegetarianos. Segundo estudos, ovolactovegetarianos apresentaram menor pressão arterial (PA). Vegetarianos em geral tinham tanto menor pressão arterial sistólica (PAS) quanto menor pressão arterial diastólica (PAD). Quando comparados a semivegetarianos, vegetarianos também possuíam menor PA, e semivegetarianos, por sua vez, menor PA que onívoros. Ser onívoro aumenta em 119% o risco de hipertensão, independentemente de sexo ou idade. Possíveis explicações incluem o maior consumo de potássio e de fibra dos vegetarianos, além de menor consumo de gordura e de proteína animal, as quais se encontram associadas ao aumento de pressão arterial.

Risco cardiovascular

Em comparação com a dieta onívora, a vegetaria- na encontra-se associada a um perfil de biomarcadores cardiovasculares mais saudáveis. Esses achados estão de acordo com a literatura internacional, que tem evidência cada vez mais forte do menor risco cardiovascular em vegetarianos, devido a uma sé- rie de fatores discutidos anteriormente, tais como menor IMC, melhor perfil lipídico e menores níveis de pressão arterial. Os possíveis mecanismos pelos quais uma dieta vegetariana protege a saúde cardiovascular incluem a menor ingestão de gorduras saturadas e colesterol, maior ingestão de gorduras monoinsaturadas e poli-insaturadas, fibras, compostos antioxidantes, micronutrientes, proteína vegetal e esteróis vegetais. O alto consumo de fibras está relacionado à menor formação de placa aterosclerótica e, consequentemente, ao menor risco car- diovascular. Proteínas vegetais reduzem a concentração de lipídios séricos e o risco cardiovascular. Os antioxidantes e micronutrientes também são protetores cardiometabólicos e, por fi m, os esteróis vegetais parecem ter efeito anti-infl amatório, o que afeta positivamente a coagulação e as funções plaquetária e endotelial. Em resumo, a dieta vegeta- riana saudável é rica em alimentos benéficos para a saúde cardiovascular e pobre justamente naqueles que têm efeitos prejudiciais para ela.

Perfil lipídico

Vegetarianos e semivegetarianos apresentam me- nor prevalência de hipercolesterolemia (colesterol total >200 mg/dl) do que onívoros. Isso pode ser ex- plicado, pois vegetarianos apresentam menor ingestão dietética de gordura total e de gordura saturada, além de maior consumo de fi bras, as quais possuem efeito benéfi co sobre o perfi l lipídico. A gordura saturada pode aumentar o LDL-c, enquanto o colesterol dieté- tico aumenta tanto o CT quanto o LDL-c, evidenciandose, assim, o possível motivo pelo qual vegetarianos possuem níveis menores de CT e LDL-c, pois somente alimentos de origem animal contêm colesterol.

Câncer

Diversos estudos relacionam a alimentação vegetariana com a baixa incidência geral de câncer, uma vez que, entre os fatores ambientais que induzem o surgimento dessa doença, destaca-se a alimentação. A carne é parte complementar da dieta humana e constitui importante fonte de proteína, ferro, zinco e vitaminas, como niacina, cobalamina e riboflavina. Ela oferece grande biodisponibilidade de nutrientes, porém, apesar de ser regularmente consumida pela população, estudos sugerem que o alto consumo de carne vermelha, principalmente em sua forma processada (transformada pela adição de sais de cura, fermentação, defumação ou outros processos químicos, afim de melhorar sua preservação e aspecto) pode estar relacionado ao desenvolvimento de doenças crônicas, como obesidade, diabetes tipo 2, doença cardiovascular e alguns tipos de câncer. Em 2015, a International Agency for Research on Cancer, agência de pesquisa sobre câncer da OMS, classificou o consumo de carne vermelha como provável agente carcinogênico para os seres humanos. Além disso, a carne processada é classificada como evidentemente cancerígena para os seres humanos, posto que o consumo diário de uma porção de 50 gramas de carne processada (ex.: três fatias de peito de peru) aumenta 18% o risco de manifestação do câncer. Estudos indicam que a fermentação anormal no intestino está ligada à obesidade e ao câncer em razão do desequilíbrio da microbiota devido ao alto consumo de gordura de origem animal. A carne vermelha, por conter alto teor de gordura, atua como um possível fator de risco para o câncer colorretal pelas mudanças provocadas na composição da microbiota. Em 2013, foi analisada a relação entre padrões alimentares e a incidência geral de câncer por meio de 69.120 participantes do Adventist Health Study-2. Obteve-se uma associação significativa entre a alimentação ovolactovegetariana e a proteção contra os cânceres do trato gastrointestinal; já a alimentação vegetariana estrita pareceu conferir proteção contra a incidência geral de câncer. O consumo de frutas e vegetais disponibiliza potenciais agentes antitumorigênicos e antioxidantes, pois esses alimentos possuem compostos bioativos como carotenoides, vitaminas C e E, selênio, ácido fólico, flavonoides, fenóis e limoneno, capazes de inibir danos celulares. Há indícios de que a vitamina C exerça efeito protetor sobre o desenvolvimento do câncer por ser um potente antioxidante. Os grãos integrais são fontes de fibra dietética, e são fermentados no intestino, formando ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato, e são capazes de restringir o risco de câncer por meio da redução do tempo de trânsito intestinal e do aumento do volume fecal, fazendo com que sua interação com a mucosa do cólon seja breve, consequentemente reduzindo o potencial mutagênico.

Microbiota intestinal

A alimentação tem forte influência sobre a saúde humana e grande parte disso pode estar relacionada com a modulação da composição da microbiota intestinal, podendo desempenhar tanto um papel promotor quanto protetor ao desenvolvimento de determinadas patologias. Considera-se que uma dieta rica em gordura e carboidratos e pobre em frutas e vegetais aumente o risco de distúrbios metabólicos. O consumo a longo prazo de grande quantidade de açúcar e gordura provoca disbiose (alteração ou desequilíbrio na composição da microbiota) e aumenta a produção de endotoxinas, além de modificar a mucosa intestinal, tornando-a mais fina e permeável a patógenos e antígenos, consequentemente levando a uma inflamação de baixo grau persistente. Há um volume grande e robusto de pesquisas sobre saúde, com trabalhos revisados por cientistas, que mostram os benefícios da dieta vegetariana ensinada há muito tempo pela Igreja Adventista. A maior parte dos resultados encontrados nos estudos apontou para o melhor perfil nutricional associado ao vegetarianismo. A alimentação vegetariana proporciona a ingestão de uma ampla diversidade de nutrientes, além de conter substâncias fitoquímicas capazes de proteger as células por suas propriedades antioxidantes, antiinfl amatórias e antiproliferativas. Vale a pena ressaltar que a retirada de produtos de origem animal da alimentação não representa que esta se tornará mais saudável, pois, se for mal planejada, a alimentação vegetariana pode ser nutricionalmente carente, além de fornecer maior quantidade de gordura, calorias e sal se produtos processados forem consumidos habitualmente; porém, acredita-se que vegetarianos possuam um estilo de vida mais consciente de saúde e sejam menos propensos a fumar e a beber excessivamente. É interessante e animador saber que há pesquisas atuais e sólidas confirmando as descobertas feitas ao se analisar o estilo de vida de alguns adventistas. Não somente em relação à nutrição, mas também aos benefícios do exercício físico, sono adequado, exposição cuidadosa ao sol, ar fresco, água pura e confiança em Deus. De fato, somos abençoados por viver num tempo em que a ciência continua confirmando as instruções dadas por Deus na Bíblia e nos escritos de Ellen G. White.

Adriana Boganha Nutricionista e mestre em Educação nas Profissões de Saúde

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