Depressão: passos para a cura
Pessoas deprimidas podem melhorar com, sem ou apesar dos medicamentos antidepressivos. A Organização Mundial da Saúde prevê que no ano de 2020 a depressão será a segunda doença a atingir os seres humanos em nosso planeta. A primeira ainda será as cardiovasculares.
Sabe qual é a razão básica para a escalada estatística depressiva? É a perda da esperança. A perda da esperança está no núcleo da mente deprimida. É por isso que muitos deprimidos pensam em morrer, porque passam a sentir que sua situação não tem saída. Na verdade, o suicida não quer morrer, mas ele não sabe como continuar a viver com uma dor que se tornou insuportável.
Tipos de depressão
Na depressão leve não há necessidade de medicação. O apoio psicológico da família e de um bom conselheiro resolve. Na depressão moderada é possível que algumas pessoas consigam sair dela sem antidepressivos. Já no nível depressivo grave é mais difícil melhorar sem um “empurrão” da medicação. Mas, assim que possível, mesmo o deprimido grave precisará começar a pensar que ele tem um papel na recuperação da doença, em vez de jogar toda a sua esperança no remédio, no profissional, num parente.
Dentre os principais sintomas para o diagnóstico da depressão estão: perda do prazer geral, e tristeza que não passa ao longo do dia por pelo menos duas semanas seguidas. Para se dizer que alguém está com depressão é necessário ainda ter alguns outros sintomas, como insônia ou dormir demais, fadiga, aumento ou queda do apetite, ideias de culpa, ideias pessimistas, pensamentos de morte, ideias suicidas, perda da esperança, entre outros.
O processo da cura
Para o deprimido entrar no processo da cura, poderá, por exemplo, ser necessário lamentar suas perdas: chorar, ficar triste, desabafar sua dor. Mas depois de viver o luto psicológico, será preciso prosseguir na recuperação. Como? Parando de se lamentar e passando a olhar para o que funciona bem em sua vida. Será preciso lutar consigo mesmo para cultivar a gratidão.
Mesmo quando alguém se deprime diante de uma perda importante, existem coisas boas funcionando em sua vida. Assim que possível, ao longo do processo de luto psicológico que pode durar semanas, meses ou até mais de um ano, será preciso cultivar a esperança e olhar o que existe de bom à sua volta em vez de se concentrar apenas no que perdeu.
Para outros indivíduos, será ainda necessário resolver ressentimentos. Isso significa perdoar pessoas que feriram, magoaram, traíram, abandonaram. Perdoar também é um processo que pode exigir tempo. Tudo dependerá do tipo de temperamento da pessoa, da gravidade do fato que originou a tristeza, dos recursos que ela terá para lidar com a dor, do nível de experiência espiritual. E também pode ser preciso perdoar a si mesmo pelos erros cometidos, por ter machucado pessoas.
Outro passo para sair da depressão tem que ver com parar de colocar expectativas altas demais no que os outros podem oferecer. Nós também frustramos os outros, assim como eles nos frustram, mesmo quando existe um bom relacionamento. Isso ocorre porque nem sempre nossos sonhos serão plenamente realizados.
Distorções de pensamento
Também é importante que a pessoa deprimida lute contra distorções de pensamento, isto é, a interpretação errada da realidade. Existe uma teoria psicológica que diz que a depressão pode começar ou piorar por causa de distorções de pensamento. Muitos deprimidos demoram mais a melhorar porque mantêm pensamentos distorcidos, mesmo em uso de medicação antidepressiva.
Finalmente, é preciso entender que talvez o pior não seja a perda ocorrida, mas o significado dela para aquele tipo de personalidade que se deprimiu. Notou quanta coisa é possível fazer independentemente das medicações? A cura para a depressão reúne um conjunto de fatores.
Cesar Vasconcellos de Souza
Médico psiquiatra e apresentador do quadro ClaraMente no programa Vida e Saúde, da TV Novo Tempo
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